18.8.11

"A Hora do Pesadelo" apresenta uma nova versão sombria e assombrosa de Freddy Krueger

A HORA DO PESADELO

Parece que alguns críticos adotam um método diferente para analisar remakes. Entre 10 críticas que você encontra de um remake, 9 delas só comparam o remake ao filme original durante a crítica toda e julgam o remake um filme ruim pelo fato de não ser muito fiel ao original. E quanto aos que não assistiram ao filme original? Os críticos por aí que me desculpem, mas um remake, mesmo tendo sido originado do filme original, é um novo filme, um outro filme.
Freddy Krueger sempre foi um dos personagens do gênero terror que mais me aterrorizaram, e agora que estou muito mais familiarizado com o gênero, fiz questão de conferir este "A Hora do Pesadelo"(A Nightmare On Elm Street, 2010) no cinema. O novo longa começa nos apresentado todos os seus personagens primários e o antagonista, Freddy Krueger, interpretado maniacamente por Jackie Earle Haley(Watchmen). O que chama a atenção é que o filme nos apresenta seus personagens um por um e ao contrário de outros slasher movies, a fita dá valor ao seus personagens e não só ao seu antagonista. A história conta a história de adolescentes que têm compartilhado o mesmo pesadelo, onde um homem queimado que usa um suéter listrado tenta matá-los com lâminas em seus dedos. A situação e a pressão caem ainda mais sobre os personagens quando eles descobrem que ao morrer no sonho, eles morrem na vida real. Uma das diferenças interessantes desse remake em relação à obra de Wes Craven é que no original, a protagonista Nancy Thompson(Heather Langenkamp) era uma garota popular de sua escola onde todos a conheciam. Nesta versão, Nancy Holbrook(Rooney Mara, do inédito "Os Homens Que Não Amavam As Mulheres") é uma garota tímida e pouco deslocada entre seus amigos. O filme explora bem as personalidades dos personagens e a relação existente entre eles, fazendo com que nos importemos cada vez mais com as perdas durante o filme. No elenco, os mais carismáticos são o próprio Jackie Earle Haley, nos mostrando um Freddy sombrio, irônico e vingativo que faz com que nos interessemos muito mais pela história do personagem, Thomas Dekker, que interpreta Jesse(Personagem batizado com o nome do protagonista do segundo filme de Freddy, e inspirado no personagem que assiste à morte de Tina no longa original), Kyle Gallner e Katie Cassidy. Gallner interpreta Quentin Smith, um garoto um pouco rebelde, batalhador e estressado. Cassidy é Kris Fowles, uma das personagens mais próximas do filme original, que é inspirada em Tina e protagoniza a versão refeita da clássica cena da sua morte no longa de Wes Craven. É possível notar alguns erros de continuidade relacionados ao posicionamento dos atores e entre outras coisas, também alguns cortes não muito bem aplicados, mas o diretor Samuel Bayer(que dirigiu o premiado clipe "Smells Like A Teen Spirit", do Nirvana) faz um bom trabalho para um estreante nos cinemas. O longa-metragem de 1987 mostra um Freddy Krueger extremamente cômico que adora tirar sarro de suas vítimas, interpretado pelo imortalizado Robert Englund. O maior acerto do novo filme é mudar totalmente a personalidade do assassino. Com o passar do tempo, notou-se que aquela personalidade cômica que Freddy tinha nos primeiros filmes não funcionava mais no gênero terror, o primeiro longa-metragem do serial killer mais parece uma paródia ao estilo "Todo Mundo em Pânico" hoje em dia, apesar de ainda mostrar enorme qualidade. O próprio Wes Craven percebeu esse detalhe e mudou isso em "O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger"(Wes Craven's New Nightmare, 1997), colocando um Freddy mais sério e menos engraçado, mas também mais monossilábico. O novo Freddy mostra sempre estar procurando aterrorizar suas vítimas ao máximo, desde o modo como o mesmo as ataca até o modo como usa o cenário dos sonhos a seu favor. Aliás, o modo como os sonhos são construídos é criativo e o antagonista faz bom uso de seu controle total dentro dos sonhos. Temos várias referências aos filmes clássicos("How's this for a wet dream?", "I'm your boyfriend now") e novas ideias muito interessantes para o contexto do longa que são postas na mesa aqui. Uma coisa que nunca havia sido aproveitado nos filmes anteriores é o conceito da insônia. Simplesmente ficar acordado não salva as vítimas de Freddy Krueger para sempre. Após a 70ª hora, o cérebro começa a dar leves cochiladas, o que te faz sonhar sem que você perceba, mesmo que esteja acordado. Foi uma sacada muito inteligente dos roteiristas e é um conceito muito bem explorado no filme, especialmente na cena da farmácia, que é criativa e uma das mais marcantes da fita. Podemos perceber também bastante no filme que à medida que os personagens são eliminados, vão ficando sem tempo e opções de como sobreviver à Freddy Krueger, eles tentam desesperadamente ficar acordados usando métodos alternativos mesmo que já tenham desistido, para viver o maior período que conseguirem. Aquele clima de lutar para sobreviver e de que o personagem pode morrer a qualquer momento é muito bem aplicado e notável aqui, e uma das coisas mais curiosas é que à medida que os personagens descobrem quem é Freddy Krueger, mais eles querem saber que tipo de conexão tem com esse homem e cada vez mais caminham para suas mortes. A fotografia do filme é boa e curiosa. As cores destacadas são mais convencionais, principalmente o laranja e o beje quando no "mundo dos sonhos" e o vermelho do sangue e do suéter de Freddy é mostrado de forma mais escura. A mixagem de som é ótima, e temor em ouvir as lâminas de Krueger permanece. A trilha sonora, composta pelo ótimo Steve Jablonsky, faz jus à trilha sonora original mas ainda sim encontra sua própria identidade, dando um tom mais obscuro ainda ao filme. Uma outra característica interessante sobre o novo Freddy Krueger é que o mesmo possui algumas manias psicopatas. Seu jeito de andar, o modo como usa sua luva, o roçar de uma lâmina com a outra, o jeito de falar e se dirigir às suas vítimas, tudo neste novo serial killer é bem maníaco, e sua voz é simplesmente assombrosa. Jackie Earle Haley usa um de seus melhores talentos e compõe uma voz grave e rouca para o personagem, e vemos que o ator se encaixa com o personagem de modo perfeito. A química entre os personagens acontece de uma maneira legal e à medida que as circunstâncias se complicam eles se preocupam mais uns com os outros, querendo sempre se proteger. Entre os casais do longa, Thomas Dekker e Katie Cassidy se destacam mais do que os próprios protagonistas, Rooney Mara e Kyle Gallner. Percebemos o interesse que o personagem de Gallner tem por Nancy e o como se preocupa com ela, porém os dois personagens juntos acabam tendo um desempenho melhor como amigos desesperados do que como interesse amoroso, ainda mais com uma cena de beijo sem graça entre os dois atores. Como esse filme deixa o clima cômico da franquia original e se leva ao sombrio, o humor no longa é quase inexistente e não funciona muito bem quando aparece, mas as poucas piadas de Freddy Krueger ainda tem graça. O maior defeito do filme com certeza é o excesso de cenas excluídas. A pressão dos fãs em cima da produção fez com que muitas cenas criativas e interessantes fossem tiradas do filme, e isso é realmente uma pena. Mas, tomara que isso não venha a acontecer numa possível continuação. Este novo longa não aposta no fator "dar medo ao espectador" mas sim no "assustar", recordo-me de muitos pulos da cadeira do cinema. As cenas que nos assustam são bem aproveitadas e espalhadas pelo filme, e a medida que os personagens perdem mais a noção do que é real e do que é um sonho, estas ficam cada vez mais comuns. A situação, em alguns momentos, joga os personagens contra as outras pessoas e desafia a confiança que os mesmos tem nos outros; Temos bons diálogos entre os personagens e dos mesmos com seu perseguidor maléfico, Freddy Krueger. A relação passada e atual do assassino com os outros personagens da trama é muito bem explorada e é um dos focos principais do filme, especialmente a da protagonista Nancy.
Conclusão Final: "A Hora do Pesadelo"(A Nightmare On Elm Street, 2010) faz referências à franquia original mas acima de tudo encontra seu próprio espaço. Este não é um filme festival de sangue como "Sexta-Feira 13"(Friday The 13th, 2009), é um filme que procura mexer mais com o psicológico e com o drama. Os sonhos e seus cenários são criativos e Freddy Krueger se mostra mais sombrio do que nunca neste novo longa-metragem dirigido pelo estreiante Samuel Bayer, ainda que com seus defeitos. Que venha sua continuação! Recomendado!

Nota: 8.o

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