2.6.12

"Branca de Neve e o Caçador" é surpreendentemente bom

Arrependimento número 1 de 2012: Ter botado fé em "Espelho, Espelho Meu" e duvidado de "Branca de Neve e o Caçador". Oh dear.

EL AMANTE FELINO apresenta
BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR

É, você leu certo ali em cima, eu botei fé em "Espelho, Espelho Meu" (Mirror, Mirror, 2012). Todo mundo tem seus demônios, ok? Vamos à crítica. 

Todo mundo conhece a história da Branca de Neve, mas eu vou refrescar suas memórias mesmo assim. A vaidosa rainha Ravenna (Charlize Theron), vendo sua beleza ameaçada pela princesa Branca de Neve (Kristen Stewart), ordena que a mesma seja morta. Entretanto, Branca de Neve consegue escapar dos domínios da Rainha Má e se refugia na Floresta Negra. Inconformada com a incompetência de seus subordinados, Ravenna envia o Caçador (Chris Hemsworth) para a Floresta para que o mesmo traga a princesa de volta, prometendo ressucitar sua esposa com seus poderes mágicos de origem desconhecida caso o faça.

Para começar, o filme adapta o conto clássico da Branca de Neve muito bem, envolvendo-se numa atmosfera sombria que foge totalmente do padrão infantil determinado pela Disney com a animação "Branca de Neve e os Sete Anões". Os figurinos se baseiam em modelos medievais e épicos, fundindo-se à essência dos contos-de-fada. O vestido clássico da Branca de Neve, por exemplo, surge com muito menos cores, sujo, surrado, mais curto e com ombros murchos, detalhes que refletem a pobreza para a qual a princesa fora submetida e a mente abalada da mesma após acompanhar com os olhos seu outrora grandioso reino sendo tomado pela escuridão e maldade da Rainha. Por outro lado, Charlize Theron usa e abusa de vestidos luxuosos, com direito à penas de corvo e tudo mais.

A fotografia é, assim como o ambiente, descolorida - deixando-se favorecer apenas o vermelho do sangue e os lábios rosados da Branca de Neve (não ESSES lábios, seus pervertidos). Como descito na própria fita, os cabelos negros da personagem-título também entram em contraste com a pele pálida da mesma, fazendo dela uma das imagens mais peculiares do filme. O trabalho com a iluminação também contribui para criar o tom dark do longa. O filme não é desprovido de luz, mas esta é bastante balanceada com as sombras.

A história é devidamente centrada, e mesmo sendo coisas novas apresentadas constantemente introduzidas no enredo, como os (oito) anões por exemplo, este não perde seu foco, que é a caça e a guerra, dispensando clichês desnecessários como um par romântico. Os personagens são um ponto bastante enfasado pelo roteiro, e as atuações, em sua maioria, acompanham com qualidade. Vamos começar, inevitavelmente, falando sobre Kristen Stewart. A atriz, que é bombardeada pelos haters de "Crepúsculo", tem o costuma de atuar do mesmo jeito em quase todos os seus filmes. Isso faz dela uma má atriz? NÃO, só a torna mais limitada. O fato é que seu jeito de atuar combina com esse filme em específico, só que infelizmente, Kristen não consegue se fazer notar diante do poderoso Thor carismático Chris Hemsworth e da grandiosa Charlize Theron.

Falando nisso, Charlize Theron rouba todas as cenas em que aparece, interpretando eximiamente a rainha Ravenna. A vilã é a perfeita versão feminina de Albert Wesker; totalmente obcecada, insana, cega por seu poder, narcisista e muito, MUITO má. É interessante como a fita compara a Rainha Má com corvos, que são criaturas repugiadas por todos que surgem em cenários caóticos ou desérticos, destacando-se em meio à desolação. A química entre Stewart e Theron é sólida e firme, você sente aquela coisa de "Batman vs. Coringa", "Luke vs. Vader" quando as personagens finalmente se defrontam. O co-protagonista Chris Hemsworth também leva uma relação bem desenvolvida com a Crepusculete, mas que não chega a ser romântica - detalhe que o estreante Rupert Sanders trabalhou muito bem, construindo um relacionamento forte, que se contém na beira de se tornar um romance. Não temos ali um casal feliz, mas sim uma garota perdida no mundo e um homem quebrado e experiente que a guia. 

Os anões são a melhor fonte de humor do filme, aspecto para qual não é dada tanta importância, mas também não é totalmente dispensado. Os seres-de-baixa-estatura são basicamente retratados como o ponto mais feliz do longa, sendo até sua habitação, o "Santuário", privilegiado pela fotografia - que, como dito anteriormente, é descolorida, mas assume tons brilhantes e bastante vivos neste cenário. E não só nesse aspecto o lar dos homenszinhos é mostrado como um lugar de felicidade e esperança, o habitat em si é rico em plantas exóticas e criaturas típicas de contos-de-fada. O filme inteiro é imerso num mundo surreal com bichos esquisitos e plantas peculiares, e tem lá suas divisões. Digamos que o Santuário seja o exato inverso da Floresta Negra (até mesmo porque na Floresta temos uns caras bem altos).

A trilha sonora é intensa, mas desprovida de uma composição tema que permaneça na sua cabeça, algo muito comum nos contos-de-fada. A mixagem de som faz bem seu trabalho, sendo os sons mais sutis, enfatizados pelo slowmotion, os mais marcantes. As lutas tem ótimas coreografias, e as cenas de ação são guiadas de jeito digno pelas mãos de Sanders. Divertidas, empolgantes e principalmente, com batalhas difíceis. Não é como no remake de "Conan, O Bárbaro", em que fatiar as pessoas era a coisa mais simples do mundo. Não, aqui temos confrontos de verdade, onde um tem que se aproveitar da primeira brecha do outro, e vice-versa. Os efeitos especiais não tem um singelo defeito - outro detalhe que me surpreendeu, pois pelos trailers eu esperava um "Fúria de Titãs" da vida; cheio de efeitos defeituosos entre alguns bons.

Bravamente superando as minhas expectativas, "Branca de Neve e o Caçador" (Snow White and the Huntsman) é um ótimo filme, e devo dizer que a adaptação definitiva do conto da Branca de Neve aos cinemas. O maior defeito da fita é não se aprofundar em alguns detalhes, como o cervo que reverencia a princesa no Santuário, e a origem dos poderes de Ravenna. Uma sequência é desnecessária, mas confesso que essa história renderia uma boa franquia cinematográfica. Palmas para Rupert Sanders, que adaptou uma história que muitos tentam há tempos em seu primeiro projeto. Eu facilmente compraria "Branca de Neve e o Caçador" em Blu-ray.

Nota: 8.7

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